Gestão do transporte no comércio eletrônico

O transporte para e-commerce se distingue do tradicional transporte de cargas pelo forte componente de TIC presente em sua gestão e controle, pelos rigorosos níveis de serviço, pela especialização em grande quantidade de pequenos volumes e pela abrangência da rede logística. Ele é parte integrante do fluxo do pedido, portanto, estritamente monitorado pela plataforma de controle virtual de processo, muito embora esteja fora do controle da Loja por ser exercido por terceiros.

Pela natureza do comércio eletrônico, o frete é um importante tanto como fator de custo como variável comercial. O frete é, em tese, cobrado do cliente e pago à transportadora. Porém, para se firmar como canal de vendas no mercado e em função da luta concorrencial, o comércio eletrônico brasileiro deixou de cobrar parte do frete do consumidor e a conta frete passou a ser deficitária. Como se trata de uma despesa que os outros canais não têm, a administração desta conta passou a ser relevante para o segmento. Para se ter uma ideia da importância deste fator, segundo Webshoppers 32ª edição, 43% das vendas do comércio eletrônico são realizadas com frete grátis, a despeito dos esforços das lojas em sentido contrário.

a) Mercado fornecedor de transporte de encomendas

A abrangência de atendimento das transportadoras de encomendas especializada em comércio eletrônico tem que corresponder à abrangência do mercado de seus clientes. Esta amplitude operacional é um dos fatores indutores da concentração do mercado de transportes de encomenda em razão do alto investimento em veículos, terminais de carga (hubs), acordos com transportadoras para redespacho, sistema de controle e nível de serviço muito elevado.

O varejo tem forte sazonalidade. No varejo físico, o tamanho das lojas limita as vendas, no varejo virtual, a limitação é estabelecida pelo estoque e pela capacidade de entrega envolvendo as transportadoras. Como decorrência, os investimentos das transportadoras têm que ser dimensionados para atender os picos de demanda, caso contrário, elas correm o risco de perda de mercado.

A irregularidade da demanda de carga, agravada pela dificuldade de previsão de vendas das lojas, reflete-se diretamente na determinação do preço. Como o preço unitário é função do volume de carga, para ser lucrativo, ele tem que ser estabelecido considerando o nível médio de atividade levando em conta os custos estruturais necessários para atender a demanda nas épocas de pico, porém, esta ociosidade dificilmente é considerada nas negociações.

Tratando-se de encomendas, as transportadoras especializam-se em carga leve – volumes com peso até 40 quilogramas e com cubagem limitada – no e-commerce, a cada quatro cargas leves, corresponde uma carga pesada.

As transportadoras operam em rede, cada nó da rede é um terminal de cargas, fiscalmente considerada uma filial, cuja finalidade é aumentar o percurso sem fracionar a carga. Os terminais de carga determinam a abrangência da rede logística da transportadora.

O controle integral do processo de entrega é fundamental para a transportadora e para a loja virtual. Durante o processo de entrega, é indispensável ter informação sobre onde e em que estado físico está cada volume de cada pedido de venda e que a disponibilidade da informação esteja muito próxima do momento de sua ocorrência. Tal rigor é característico do comércio eletrônico sem o qual a loja fica impossibilitada de responder às indagações de seus clientes e de controlar o desempenho da transportadora contratada.

As transportadoras informam as lojas sobre as tarifas basicamente dependentes do destino, subdivididas por faixas de peso, isso permite que a loja virtual saiba o valor do frete a pagar ao estabelecer o valor do frete a ser cobrado do consumidor a cada pedido de venda capturado pelo Site e a validar os conhecimentos de transporte recebidos.

b) Recursos usados pelas grandes lojas para redução do frete a pagar

As grandes lojas possuem capital e volume para se imporem às transportadoras no intuito de reduzir os custos com frete: ganho de escala em função da garantia de cumprimento de determinada média diária de volumes embarcados; descentralizar o estoque em armazéns estrategicamente localizados com o intuito de reduzir o tempo de entrega e frete; internalizar parte do transporte reservando para si a entrega de suas mercadorias para regiões de grande concentração de clientes; precisar as informações determinantes do valor do frete com o uso de dispositivo eletrônico para obtenção do peso e o volume de cada pacote e, finalmente, o uso de programas de simulação como instrumento de negociação com as transportadoras.

Texto adaptado da dissertação de minha dissertação de mestrado “Comércio Eletrônico, modificações estruturais e funcionais na esfera da circulação”, defendida em março de 2016 na PUC-SP (https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/18808).

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